— Vocês conhecem em " Nosso Lar" muitos espíritos sofredores, mas, em " Campo da
Paz" conhecemos muitos espíritos obsessores.
Começava a entender a lógica daquela argumentação, e, reconhecendo a impossibilidade de qualquer contradita, a jovem continuou, segura de si: — Aliás, é natural que assim seja. Estamos a pouca distância dos homens, nossos irmãos na carne. E sabemos que, na Crosta, a situação não é diferente.
A influência da Humanidade encarnada em nosso núcleo de serviço é vigorosa e inevitável. Vicente, que ouvia atencioso, obtemperou: — Deduzo de tudo isso manifestações sacrificantes muito grandes, mas o trabalho em “ Campo da Paz” deve ser altamente meritório. — Incontestavelmente — respondeu a jovem. — A história da fundação é interessante. Alguns benfeitores, reconhecidos a Jesus, resolveram organizar, em nome dele, uma colônia em plena região inferior, que funcionasse como Instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas. O projeto mereceu a bênção do Senhor e o núcleo se criou, há mais de dois séculos. Nem todos os Espíritos evoluídos, no entanto, estimam o serviço nesse órgão de assistência constante. A maioria dos missionários vitoriosos, ao se ausentarem da Terra, necessitam refazer energias, por direito natural do trabalhador fiel, e os mentores de nobre posição hierárquica têm seus programas de serviços, que não devem quebrar, em obediência aos desígnios do Senhor. Desse modo, nosso serviço é ativo, mas nossas aquisições são lentas e devemos sempre esperar por cooperadores que se eduquem na própria colônia, em benefício geral. Ganha-se excelente recompensa, temos direito a grandes valores intercessários, mas, por isso mesmo, nossas responsabilidades não são pequenas. Conhecendo a utilidade dos que servem em nossa colônia, não passamos nunca sem instrutores abnegados, que procedem da zona superior, alentando-nos o bom ânimo. O que pedimos, com fundamentação legítima, nunca é negado; e, se tarda o recurso, beneméritos orientadores de nossas atividades prestam explicações que nos libertam de qualquer angústia na espera. Por isso, nosso grupo está sempre coeso e muitos preferem adiar certas realizações sublimes, para permanecer ao lado de companheiros antigos, aos quais se unem com desvelado amor. Os esclarecimentos da jovem encantavam-me. Naquelas poucas palavras estava todo um resumo de lições sobre o sacrifício e o merecimento, o compromisso fraterno e a solidariedade compensadora. [103 - páginas 156/157]
Em palestra afetuosa Volt ávamo-nos em conversação para as belezas de “Nosso Lar”,
quando Aldonina interveio, acrescentando:— Alguns membros de nossa família visitam a cidade de vocês, de tempos a tempos. Nossa irmã Isaura, que se casou aqui em “ Campo da paz” há três anos, reside em "Nosso Lar" em companhia do esposo que é funcionário dos Serviços de investigação do Ministério do Esclarecimento. Percebendo-nos a curiosidade, prosseguiu: — Morava ele conosco, mas, desde tempo, foi convocado a serviços em "Nosso Lar", indo, mais tarde, buscar a noiva, em " Campo de paz". Vicente, que se mantinha em atitude séria, exclamou: — Tocamos num assunto que muito me tem despertado, desde que regressei aos círculos terrenos. Não tinha, no mundo, nenhuma ideia de que pudéssemos cogitar de uniões depois da morte do corpo. Quando assisti a festividades dessa natureza, em “Nosso Lar ’ confesso que minha surpresa ralou pela estupefação. (Ver: Disciplina afetiva e União dos seres) Cecília, vivaz, acentuou, sorrindo: — Isto se deu também conosco. É forçoso reconhecer que tal estado dalma resulta do exclusivismo pernicioso a que nos entregamos no plano carnal, porque, se o casamento humano é um dos mais belos atos da existência na Terra, porque deixaria de existir aqui, onde a beleza é sempre mais quintessenciada e mais pura? E, além do mais, é imprescindível ponderar que não vivemos à revelia de leis sábias e justas. — E como são felizes os que se casam em nossos planos! — acentuou o companheiro, denotando aspirações secretas do coração. Aldonina esboçou um gesto expressivo e considerou: — Sim, para possuirmos aqui essa ventura, é preciso ter amado na Terra, movimentando os mais nobres impulsos do espírito. Para colher os júbilos dessa natureza, é necessário ter amado com almas. Os que se consagram exclusivamente aos desejos do corpo, não sabem amar além da forma, sendo incapazes de sentir as profundas vibrações espirituais do amor sem morte. Desejando, porém, retomar o assunto referente a ela interroguei, curioso: — Continuem falando-nos da irmã que se mudou para “Nosso Lar”. Estimaria saber como se realizou o consórcio. Se você, Cecilia, está aguardando um prêmio de visita à nossa cidade, como se casou ela, transferindo-se para lá definitivamente? Cecilia sorriu e retrucou: — Isto é outro caso.
Recebia essas delicadas informações, sem disfarçar a enorme surpresa. — Já fui visitar o casal, uma vez — disse Aldonina, honrada — quando ganhei o prêmio de assiduidade e bom comportamento. Estive em “Nosso Lar”, durante uma quinzena inesquecível para mim. No entanto, embora visitasse sublimes instituições como ...
Lá irei, contudo, mais tarde, pois continuo em meu trabalho e nossos instrutores afirmam sempre que tudo de bom deve aguardar do destino quem saiba servir ao bem e trabalhar com esperança. Admirando a beleza de sentimentos daquelas jovens indaguei emocionado: — Mas não têm vocês, em “ Campo da Paz”, instituições semelhantes? Não existirão templos de alegria abertos à juventude? — Ah! sim — murmurou Cecilia como quem não desejava ser ingrata às Bênçãos do Eterno —, muito nos dá o Senhor, em nossa colônia; entretanto, permanecemos a vizinhança dos irmãos encarnados.
A jovem fez uma pausa mais longa, observando o efeito de suas palavras, e rematou: — Nosso governador, quando se agravam os serviços, costuma asseverar que estamos num campo de batalha, com a Paz de Jesus. Imagem alguma define tão bem o nosso núcleo, como esta. No exterior, o trabalho é rigoroso e incessante, mas, dentro de nós, existe uma tranqüilidade que nós mesmos dificilmente podemos compreender. — O serviço circunscreve-se à cidade? — perguntei. — Não — o trabalho é multiforme.
E talvez porque lesse em nossos olhos a mais viva admiração, a jovem adiantou-se, explicando: Felizmente, porém, temos as faculdades de volitação bastante adestradas. Raramente encontramos empecilhos vibratórios e podemos, por isso mesmo, agir com grande economia de tempo. Além disso, somente nossos instrutores vão ao serviço sozinhos. Quanto a nós, não saímos, a não ser em grupos. Necessitamos auxílio recíproco, não só no que diz com a eficiência, senão também no que se refere ao amparo magnético. E, sorrindo de modo singular, concluiu: — No trabalho de assistência aos outros e defesa de nós mesmos, não podemos dispensar a prática avançada e justa da cooperação sincera. [103 - Capítulo 30] |
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